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Geórgia, 'on my mind': Trump aposta em reconquistar estado, que Kamala quer manter com aliança progressista

Oct 28, 2024 IDOPRESS
Mural da campanha da candidata democrata à Presidência dos EUA,Kamala Harris,a alguns metros de distância de placa da campanha do republicano Donald Trump em Atlanta — Foto: Yasuyoshi CHIBA / AFP

Mural da campanha da candidata democrata à Presidência dos EUA,Kamala Harris,a alguns metros de distância de placa da campanha do republicano Donald Trump em Atlanta — Foto: Yasuyoshi CHIBA / AFP

Quando Donald Trump voltar a Atlanta nesta segunda-feira após ausência de apenas quatro dias,encontrará republicanos e democratas coçando a cabeça. A dúvida é sobre sua aposta em uma mudança radical no cenário cultural,social e político americano. Inclusive,e especialmente,no decisivo estado da Geórgia.

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A décima visita do republicano ao estado sulista desde o começo da campanha atesta a urgência da conquista de seus 16 votos no Colégio Eleitoral em disputa acirrada com a vice-presidente Kamala Harris,com quem está empatado nos principais agregadores de pesquisas. No quebra-cabeças da arcaica democracia americana,quem vencer aqui ficará muito mais perto da Casa Branca. No momento,Trump aparece na média das pesquisas ligeiramente à frente de Kamala na Geórgia,ainda que dentro da margem de erro.

O que chama a atenção é sua decisão de comandar um megaevento na semana passada e dois outros no domingo — um encontro com líderes evangélicos e um comício no Instituto Tecnológico da Geórgia — na área metropolitana,povoada por democratas. Aqui,na semana passada,a democrata quebrou o recorde de público no estado com os 20 mil que compareceram ao showmício com ex-presidente Barack Obama e o cantor Bruce Springsteen.

Em 2016 e 2020,Trump seguiu a cartilha das raposas da direita local. Concentrou seus esforços finais nos povoados rurais,com eleitorado de perfil similar ao dos vizinhos Alabama e Carolina do Sul. A matemática jura que ele ainda precisa assegurar a quase totalidade dos votos desses grotões para contrabalançar a vantagem crescente dos democratas,como mostram os mapas das duas últimas disputas,nos endereços mais populosos e diversos,concentrados na Grande Atlanta. Mas o líder da oposição,municiado de pesquisas internas,diz que este ano tudo vai ser diferente.

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Trump vê uma retração da máquina antitrumpista comandada desde 2016 no estado pela ex-deputada e ativista negra Stacey Abrams,que registrou milhares de eleitores negros e latinos,centrais para a vitória de Joe Biden há quatro anos no estado onde a Coca-Cola nasceu. O presidente teve vantagem de pouco mais de 11 mil votos em um universo de 5 milhões de eleitores. Trump não só se recusou a aceitar o resultado como responde a processo por ter buscado aliciar oficiais do Partido Republicano responsáveis pelo pleito para “encontrarem meus votos”.

— Mas a aposta dele agora faz sentido. Há dois argumentos concretos que sensibilizam os eleitores da Grande Atlanta: o aumento do custo de vida,ainda sentido no bolso,e o da imigração ilegal,com mais gente vivendo nas ruas. Por isso vamos vencer aqui,e com mais de 5 pontos de vantagem — projetou Joe Dunn,de 65 anos,que trabalha no mercado financeiro.

Dunn conversou com O GLOBO na saída de um outro evento em Atlanta,no sábado,protagonizado pelo vice na chapa de Trump,o senador J.D. Vance. As centenas de pessoas que ficaram na fila por quase duas horas para vê-lo parecem dar razão a Trump. Mas parte da audiência,como o casal de aposentados Gerry e Teresa Kingsland,de 60 e 59 anos,veio do interior.

— Moramos a uma hora daqui e sempre que paro nos sinais de lá grito “Truuuump”. As pessoas aplaudem e celebram de volta. Em Atlanta,hoje,foi igual. Ninguém crê que Kamala irá arrumar a economia que ela ajudou a escangalhar — diz Teresa.

Gerry e Teresa Kingsland,60 e 59 anos,aposentados — Foto: Eduardo Graça

O aumento recorde do número de imigrantes não documentados foi sentido no estado distante da fronteira com o México. O Migration Policy Institute calcula em 339 mil os não documentados na Geórgia. No início do ano,um imigrante venezuelano foi apontado como assassino de uma estudante da Universidade da Geórgia,o que Trump passou a usar como justificativa para sua retórica xenofóbica,embora números oficiais registrem índice baixo de criminalidade entre não documentados. Também não procede que postos de trabalho para negros e latinos minguaram. O desemprego na Geórgia é de apenas 3,1%,abaixo do nacional. Mas a mentira ecoou.

—Os democratas preferem ilegais a nós. Não quero mais disputar com eles a ajuda do Estado,e,sim,seguir o exemplo do Vance,que era pobre e ficou rico — resume Steven Owes,40,negro,que vendia merchandising trumpista no evento de sábado.

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Nos canais de TV locais,republicanos mostram seguidas imagens de imigrantes cruzando a fronteira sob um céu cinzento. E os democratas martelam a defesa do direito ao aborto. A peça mais recorrente de Kamala traz mulheres denunciando a proibição da interrupção da gravidez a partir da quinta semana na Geórgia,decisão aprovada pelo Legislativo local logo após a decisão da Suprema Corte que derrubou o direito federal,com votos dos juízes indicados por Trump. São lembradas as duas mulheres que morreram este ano no estado ao não conseguirem atendimento médico após abortos espontâneos.

A Constituição estadual não permite referendos sobre temas decididos por maioria na Assembleia,mas pesquisas mostram que 60% dos eleitores desejam o restabelecimento do direito federal ao aborto. É onde os democratas acreditam estar o ponto falho da aposta de Trump. A aliança entre negros,latinos,progressistas e republicanos anti-Trump,rebatem,manterá a Geórgia azulzinha,a cor do partido.

— Conversei ontem com minha filha adolescente sobre a importância do que seus compatriotas farão até o dia 5. Eu votei. A ela caberá prestar muita atenção — disse Greg Jean-Baptiste,41,que trabalha na indústria de turismo.

Greg Jean-Baptiste,trabalha na indústria de turismo — Foto: Eduardo Graça

O voto adiantado já bateu recorde na Geórgia,com 2,8 milhões de sufrágios até sábado. Destes,45% se identificam como brancos; 34%,negros; e 22,6%,latinos. Cada lado lê os números de um modo. Trump vê na explosão de votos os pelo menos 30% de negros que teriam rumado para a direita,especialmente homens. E eleitores ocasionais,que não votaram em 2016 e 2020,mobilizados “para dar fim ao desastre de Biden e Kamala”. Os democratas enxergam um 2020 turbinado. Contam,como sugeriu ontem o segundo-esposo Doug Emhoff,marido de Kamala,em evento no bastião democrata de Clayton,na Grande Atlanta,com o aumento de votos de mulheres brancas dos subúrbios em “defesa de nossas liberdades”.

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Foi essa coalizão,lembra a ex-deputada Abrams,que em 2020 deu vitória a Biden e aos senadores Raphael Warnock e Jon Ossoff,garantindo aos democratas a Casa Branca e a maioria do Senado. Ela mesma perdeu o governo do estado para o republicano Brian Kemp por apenas 55 mil votos. Mas em 2022,rebatem os republicanos,foi novamente,derrotada,com Kemp reeleito com vantagem de 300 mil votos,prova de que o terremoto social vislumbrado por Trump já começara. Em oito dias se saberá quem enxergou melhor o retrato da Geórgia e o dos EUA que sairão das urnas.