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Atentado a Trump ameaça democracia

Jul 16, 2024 IDOPRESS
Donald Trump é retirado de palco de comício,sangrando,por agentes do serviço secreto dos EUA — Foto: Rebecca Droke/AFP

Donald Trump é retirado de palco de comício,sangrando,por agentes do serviço secreto dos EUA — Foto: Rebecca Droke/AFP

RESUMO

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GERADO EM: 16/07/2024 - 00:05

"Teorias conspiratórias pós-atentado a Trump geram divisões políticas"

Teorias conspiratórias sobre atentado a Trump se espalham nas redes. Fenômeno de "BlueAnon" cresce. Redes sociais impulsionam divisões políticas e resistência a rever crenças. Risco de radicalização e perda de confiança democrática. Impacto da violência incitada por líderes políticos.

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As redes sociais americanas explodiram neste fim de semana em teorias conspiratórias a respeito da tentativa de assassinato do ex-presidente Donald Trump. Teorias conspiratórias à esquerda. Não foi só lá — pulsaram,e em quantidade,também aqui no Brasil. “Armação”,“teatro”. “É tinta vermelha no rosto dele.” Os sociólogos americanos que estudam desinformação on-line se saíram com um apelido para a onda — BlueAnon. Uma mistura da cor azul,atribuída ao Partido Democrata,com QAnon. A diferença é que,na versão de esquerda,não há satanistas e pedófilos. De resto,é o mesmo princípio de um grupo poderoso escondido,secretamente orquestrando o que parece caos na realidade.

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Teorias conspiratórias são uma ferramenta de proteção mental. O mundo é muito complicado,coisas acontecem de repente. A explicação para o lado complicado do mundo às vezes é complexa,às vezes é contestada,às vezes é desconhecida. Às vezes é só fruto do acaso. Aleatório. Uma conspiração simplifica tudo: se organizaram sem que nenhum de nós soubesse. Foi tudo planejado.

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O mecanismo de defesa mental se sofistica. Montamos na cabeça um modelo de como o mundo funciona,sempre tingido pela ideologia que adotamos — e todos adotamos alguma. Modelos nunca são perfeitos,e o mundo se transforma. Quando há incongruência entre o modelo e a realidade,precisamos de uma solução. A solução desconfortável é reconhecer que o modelo não previu,que erramos,voltar e entender por quê. A confortável é encontrar uma explicação externa: se organizaram,pois é.

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Algo assim sempre existiu,mas foi acelerado pelas redes sociais. Nelas,nos dividimos em tribos. Ter um lado político é agir como torcedor. Somos constantemente incentivados a estar sempre entre os nossos e preparados para atacar os outros. Nesse ambiente,o preço de voltar atrás,de rever o modelo,de cogitar ter estado errado,é muito mais alto. Estamos sob pressão contínua do nosso lado. Ninguém pode ceder a respeito da verdade que cultivamos. Se nosso candidato,que não tem como perder,perde a eleição — o processo eleitoral foi fraudado. Se o povo vai às ruas contra a presidente que representa o povo — uma nação estrangeira incitou o levante. As explicações de como se deu a conspiração são sempre vagas. O sistema tem seus métodos necessariamente secretos.

Como as redes sociais organizam a sociedade em tribos políticas em que ceder,dizer que estava errado,não é uma possibilidade,jamais,elas precisam de teorias conspiratórias. Antes das redes,teorias conspiratórias davam trabalho. Para conhecê-las,era preciso frequentar reuniões de gente esquisita ou ler publicações amadoras de procedência duvidosa. Era preciso ser muito dedicado para comprar uma e admitir em público. Nas redes,as barreiras todas são derrubadas. A difusão é acelerada,a adoção idem,e a construção das histórias ocorre aos olhos de todos. Ingênuo é quem está fora do grupo e não conhece a “verdadeira verdade”.

A esquerda brasileira já tinha suas teorias conspiratórias. A participação do governo Barack Obama no impeachment de Dilma Rousseff por interesse em petróleo,a acusação de que o senador Sergio Moro seja agente da CIA ou a ideia de que Jair Bolsonaro nunca foi esfaqueado. Que era um plano para elegê-lo. Tudo bobagem,que não se sustenta por fato algum,além,claro,da longa cadeia de ideias soltas e fragmentos que organizam quaisquer teorias conspiratórias. Mas são ideias poderosas,muito difundidas,adotadas até por ex-ministros de Estados. E que,organizam e simplificam o mundo.

Mas algo aconteceu com particular intensidade neste último fim de semana. Donald Trump é um político que incita violência no discurso. Rapazes antissociais que gostam de armas são exatamente o perfil que se organiza em milícias radicais pró-Trump. Foi um rapaz assim que tentou assassiná-lo no sábado. Filiado ao Partido Republicano. Não tem mesmo lógica aparente,e falta muita informação ainda. A investigação do FBI acaba de começar. Mas,quando se incita violência,quando se interfere na psique de quem já é perturbado,mexe-se com uma força que não tem direção. Quando estoura,é potencialmente para qualquer lado. E rapazes antissociais com uma AR-15 na mão são um problema crônico da sociedade americana.

O risco é outro. Já perdemos um bom naco da direita para as teorias conspiratórias. Se a esquerda for pelo mesmo ralo,o que sobrará nas democracias?