A UnB está à frente de um ambicioso projeto de prevenção de acidentes rodoviários no Brasil, lançado em março, com financiamento da Organização das Nações Unidas (ONU). Intitulada Aprimorando o sistema de dados rodoviários para prevenção de sinistros no Brasil, a iniciativa conta com a colaboração da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas/OMS), da Polícia Rodoviária Federal (PRF), do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran).
“Desde a concepção, a UnB está engajada nesse projeto, participando ativamente da proposição inicial e do processo de seleção, que envolveu arguição junto a uma banca avaliativa do Fundo das Nações Unidas para Segurança Viária [UN Road Safety Fund, em inglês]”, explica a coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Transporte (PPGT/FT), Michelle Andrade.
Ela destaca que a Universidade será a responsável pela capacitação e suporte técnico-científico para desenvolver os principais produtos previstos, durante os três anos de execução do projeto. “Faremos revisão e proposição de metodologias; avaliação e estruturação de sistemas de gestão de dados de segurança viária; o aprimoramento de processos de coleta de análise de dados; e a avaliação de contramedidas de segurança viária”, pontua.
No atual estágio do projeto, estão envolvidos uma professora e dois alunos do PPGT. Conforme avança, mais docentes e estudantes serão integrados, dada a natureza multidisciplinar da iniciativa.
INTEGRAÇÃO – Os dados coletatos pelo Ministério da Saúde do Brasil acerca dos acidentes de trânsito apontaram que, apenas em 2022, houve 33.894 óbitos. Deve-se considerar também as pessoas que ficam com ferimentos graves e sequelas, o que impacta, entre outras coisas, serviços de saúde e a produtividade no país. Por isso, fortalecer a segurança viária, no Brasil e em outros países das Américas, é uma prioridade para diminuir a morbimortalidade no trânsito e para promover a mobilidade sustentável.
Dessa forma, o projeto propõe integrar os principais órgãos rodoviários de forma complementar, como a PRF, o Dnit e a Senatran, o que, por sua vez, promove a circulação viária mais segura, unifica a identificação de trechos críticos e aprimora bases de dados de segurança.
“Essa ação conjunta permite a integração dos dados para decisões sobre infraestrutura, educação e fiscalização, aprimorando procedimentos e sistemas de gestão de dados, para uma atuação mais efetiva”, enfatiza a coordenadora.
Michelle Andrade explica que a colaboração da UnB se traduz na capacitação do corpo técnico, no suporte científico para aprimoramento de manuais e procedimentos de coleta e tratamento de dados, além do planejamento e avaliação da metodologia proposta.
“A contrapartida à pós-graduação se dá pela oportunidade de desenvolver e testar metodologias em cenário real, o que contribui para o processo de formação do pesquisador e para o incremento da produção bibliográfica. Além disso, o projeto viabiliza o cumprimento do papel social da pós-graduação, que entregará benefícios diretos à sociedade”, avalia Michelle.
METAS – O projeto visa resultados imediatos em termos de prevenção de acidentes, e também pretende impulsionar pesquisas de qualidade aplicadas ao contexto nacional, incentivando novos estudos e formando uma nova geração de pesquisadores comprometidos com a segurança viária.
Também está em consonância com importantes Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU e, dessa forma, está alinhado aos esforços globais para melhorar a segurança viária. Ademais, o projeto está conectado com os objetivos da UnB, como explicitado pela campanha institucional de 2024, assim como nas ações de internacionalização da Universidade.
“Nosso intuito é a redução pela metade das mortes e lesões por acidentes de trânsito até 2030, conforme a meta 3.6 dos ODS. Queremos também aprimorar o sistema viário do país com ênfase em sustentabilidade e segurança no trânsito e transporte, em acordo com a meta 9.1. Além disso, queremos contribuir para proporcionar acesso a sistemas de transporte mais seguros, como estabelecido na meta 11.2”, detalha a coordenadora.
Professor e pesquisador em Engenharia de Transportes, Paulo Cesar Marques, que também é chefe de gabinete da Reitoria, salienta que a gestão atual tem priorizado a sustentabilidade, que é mais ampla e forte do que a abordagem do ativismo verde, estabelecendo estruturas concretas e alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
O docente lembra ainda a importância da iniciativa para a internacionalização da UnB e afirma que o projeto foi selecionado “entre poucos no mundo, o que contribui para projetar a Universidade como uma referência nessas áreas de pesquisa”.
De acordo com Paulo Cesar Marques, a segurança no trânsito é um desafio para todo o mundo, contudo, é ainda mais problemática no Brasil, pois não condiz com o nível de desenvolvimento do país. “Temos índices de mortalidade muito acima de outros países. Com essa pesquisa, poderemos consolidar uma base de conhecimento confiável para formular políticas adequadas diante da inconsistência e de falta de informações sobre acidentes”, crê.
Os pesquisadores têm expectativa de expansão da pesquisa para outras cidades e até para outras regiões. Além disso, esperam que o projeto se torne uma referência para outros países, especialmente os da América Latina, um dos focos de atuação da Opas.
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