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STF volta a discutir operações em favelas do Rio e deve manter medidas para evitar alta letalidade de ações

Nov 11, 2024 IDOPRESS
PM faz operação no Complexo da Penha para impedir avanço de traficantes para favelas na Zona Oeste do Rio — Foto: Fabiano Rocha/Agência O Globo

PM faz operação no Complexo da Penha para impedir avanço de traficantes para favelas na Zona Oeste do Rio — Foto: Fabiano Rocha/Agência O Globo

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GERADO EM: 10/11/2024 - 19:35

STF debate redução da letalidade policial no Rio

O Supremo Tribunal Federal discute medidas para reduzir letalidade em operações policiais nas favelas do Rio. Dados mostram queda nas mortes em confrontos e crimes. Ministério Público defende a eficácia das ações impostas pela Corte. O governador do Rio critica as limitações à atuação policial. O julgamento envolve múltiplas partes e busca equilibrar segurança e direitos humanos.

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O Supremo Tribunal Federal (STF) julga na próxima quarta-feira um dos mais polêmicos processos envolvendo a segurança pública,a ação que ficou conhecida como "ADPF das Favelas". Em meio a críticas do governo do Rio de Janeiro,a Corte deve manter medidas para evitar os excessos em operações policiais nas comunidades. Embora o julgamento comece apenas com as manifestações das partes envolvidas — segundo um novo modelo em funcionamento no STF — há a expectativa entre ministros de que o mérito da questão tenha ao menos o debate iniciado.

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Segundo três ministros e dois auxiliares ouvidos de forma reservada pelo GLOBO,há um clima favorável para que se dê o aval a medidas que já foram determinadas de forma liminar pelo ministro Edson Fachin,e confirmadas pelo colegiado,em 2022 — ainda que possa haver "uma ou outra" adaptação ou modificação ao que foi determinado na decisão do relator.

A ação foi movida em 2019 pelo PSB,por entidades dos direitos humanos e por movimentos sociais. As organizações e o partido pedem que seja reconhecido pelo STF a situação de graves violações aos direitos cometidos pelas forças de segurança nas favelas cariocas. Também querem que seja determinada a tomada de medidas para reduzir esse quadro.

Ao atender o pedido,a Corte determinou medidas para reduzir a letalidade durante operações realizadas por forças de segurança contra o crime organizado nas comunidades da capital fluminense.

Entre os procedimentos relacionados à ADPF,a Corte obrigou o uso de câmeras corporais nas fardas dos policiais e nas viaturas,além do aviso antecipado das operações para autoridades das áreas de saúde e educação para proteger escolas de tiroteios e garantir atendimento médico à população.

Em junho do ano passado,Fachin reiterou a decisão,determinando o estabelecimento de um cronograma para a efetivação da ordem em todas as unidades policiais,com prioridade para as que realizem operações em favelas.

"Com a decisão de mérito,abre-se a oportunidade de inauguração de um novo e final ciclo de monitoramento que possa prenunciar o encerramento desta arguição de descumprimento de preceito fundamental,no sentido de consolidação de medidas estruturais com resultados comprovadamente positivos ao bem comum,ao interesse público,à segurança pública e à proteção de direitos fundamentais",disse Fachin ao concluir o relatório final da ação e liberar o processo para julgamento.

Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) mostram que os padrões de letalidade policial no Rio de Janeiro “seguem muito altos e acima da média nacional”. Em 2023,a taxa foi de 5,4 mortes em confronto com a polícia para cada grupo de 100 mil habitantes. A média nacional é de 1,8 mortes para cada grupo de 100 mil habitantes.

O relatório concluiu que houve queda de ocorrências como homicídios e assassinatos de policiais desde a decisão do STF na ADPF das Favelas que restringiu operações policiais em comunidades da capital fluminense.

Em 2019,ano anterior à decisão,foram registradas 1.814 Mortes Decorrentes de Intervenção Policial (MDIPs) no estado. Já em 2023,as mortes por intervenções policiais resultaram em 871,uma queda de 52% na comparação com 2019.

A diretora-executiva do FBSP,Samira Bueno,aponta para a ocorrência de problemas "graves" de gestão da informação,no controle da atividade policial e de governança na área de segurança pública do estado do Rio de Janeiro – e que é por isso que o Supremo precisa agir.

– Os números derrubam os argumentos de que a ADPF favoreceu o crime organizado ou resultou no crescimento da criminalidade. De 2019 a 2023 houve queda em ocorrências de homicídios,nos assassinatos de policiais,crimes patrimoniais,roubo de carga e roubo a transeuntes; as apreensões de drogas mantiveram-se estáveis e as prisões em flagrante cresceram – observa a pesquisadora ao GLOBO.

O governador do Rio de Janeiro,Cláudio Castro,vem afirmando em uma série de entrevistas que a ADPF impõe "limitações" à atuação da polícia,aumentando o poder da criminalidade. Segundo ele,todo o policiamento que antes acontecia dentro das comunidades,agora passou a ser feito fora delas,por conta das limitações impostas.

— O que dava resultado era a polícia entrando todo dia nas comunidades. A polícia agora não pode entrar mais todo dia,tem que avisar. É um pouco daquela metáfora: quando você não poda,o mato cresce — disse Castro,que defendeu o fim da ação: — Enquanto a ADPF continuar,ficamos limitados e o crime organizado segue ganhando forças.

Propostas apresentadas pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) ao Supremo em julho deste ano também reforçam o entendimento de que as medidas impostas pela Corte funcionam. Segundo o órgão,entre 2021 e 2024,o número de operações aumentou e a letalidade caiu. Na manifestação,o MP diz que houve uma efetiva redução na letalidade nesse período e defendeu algumas mudanças no sistema.

Ainda de acordo com o MP,nos primeiros 4 meses de 2019 o RJ teve 560 mortes por intervenção do estado,enquanto em 2024 os números são de 205 – menos da metade. Por isso,o órgão defende que o conceito de excepcionalidade nas operações seja encerrado e substituído pela manutenção e aperfeiçoamento de protocolos de controle; que seja criada uma perícia independente nacional,que colabore com os estados membros e acionada nas hipóteses de crimes envolvendo policiais.

Para o Ministério Público do Rio,a perícia nacional ajudaria ainda a fornecer subsídios em matéria de polícia técnica e científica ao MP em investigações independentes. “Tais etapas de checagem,no entendimento deste Parquet,garantirão,a um só tempo,a superação do atual estado de incerteza e insegurança que envolvem o alcance do conceito de ‘excepcionalidade’,promovendo a adoção de medidas concretas de redução de riscos,mitigação de danos e contenção de letalidade em operações policiais”,disse o procurador-geral de Justiça,Luciano Mattos.

— O discurso do governo do Rio não está alinhado com os dados produzidos pelo próprio governo,que mostram redução na letalidade policial,apreensão recorde de fuzis,redução no roubo de cargas — explica Leonardo Carvalho,pesquisador do Fórum Brasileiro de Segurança Pública

Quando o caso começar a ser julgado pelo Supremo,falarão,ao todo,13 entidades,entre partes autoras e interessadas,e os chamados "amigos" da Corte. O PSB,que ajuizou a ação,deve ser o primeiro a falar,seguido do estado do Rio de Janeiro,do Ministério Público e da Defensoria Pública. Uma definição sobre os demais oradores ainda será elaborada pelo STF.