Polícia Federal — Foto: Reprodução
GERADO EM: 18/07/2024 - 04:30
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A Polícia Federal planeja concluir o inquérito sobre a trama golpista até agosto. A expectativa inicial era fechá-lo até julho,mas novas descobertas feitas na investigação da chamada "Abin paralela" levaram a PF a adiar o prazo. Outro inquérito que deve ser encerrado até o fim de 2024 é o das fake news,que tramita há mais de cinco anos no Supremo Tribunal Federal.
Sem solução: Caso da 'Abin paralela' expõe uso irregular de ferramentas de espionagem,mas brechas continuam um ano depoisEspionagem clandestina: Moraes,Barroso,Toffoli e Fux foram monitorados e alvos de disseminação de fake news,aponta PF
Relator dos três casos na Corte,o ministro do STF Alexandre de Moraes autorizou na última semana o compartilhamento das provas do inquérito sobre o suposto esquema de espionagem ilegal com o da trama golpista e das fake news.
Conforme o relatório da PF,há uma tese central que conecta as três apurações - o governo Bolsonaro teria se utilizado da máquina do Estado,da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) à Receita Federal,para obter "vantagens indevidas de ordem política e econômica".
No caso da "Abin paralela",foram identificadas conversas entre dois servidores cedidos à Abin falando sobre uma eventual intervenção das Forças Armadas logo após o segundo turno das eleições de 2022. Segundo a PF,eles corroboraram a "premissa investigativa fazendo referência à possibilidade de invocação do art. 142 como referência ao golpe de Estado".
"Dizem que ele [Bolsonaro] vai amanhã... de repente invoca de lá",comenta um policial federal que atuou na Abin.
No entendimento da PF,as falas relacionadas ao "rompimento democrático" são "relevantes" e indicam "no mínimo potencial conhecimento do planejamento das ações que culminaram na construção da minuta do decreto de intervenção".
Em outro diálogo,eles se queixam da falta de ação do ex-presidente Jair Bolsonaro diante da derrota para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"O nosso PR imbrochável já assinou a porra do decreto?",pergunta um deles,ao que o outro responde: "Assinou nada. Tá foda essa espera,se é que vai ter alguma coisa".
Esses diálogos devem ser incluídos no inquérito que apura se Bolsonaro tratou de um plano para intervir no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e impedir a posse de Lula. Uma minuta do golpe teria sido apresentada aos chefes das Forças Armadas em reuniões nos Palácios do Planalto e da Alvorada,no fim de 2022,mas os comandantes do Exército e da Aeronáutica se recusaram a colocar o plano em ação.
Outro inquérito que ganhou novos elementos a partir do caso da Abin é o das fake news,que foi instaurado pelo ministro do STF Dias Toffoli em março de 2019. A apuração inicial - designada por Toffoli a Moraes - tratava de notícias fraudulentas e ameaças que miravam os ministros do Supremo e seus familiares.
Conforme o relatório da PF,a estrutura montada na Abin municiava influenciadores digitais a disseminar fake news para "descredibilizar" o sistema eleitoral e produzir dossiês contra adversários do governo Bolsonaro,entre eles ministros do Supremo,parlamentares e jornalistas.
Os investigares identificaram mensagens em que servidores cedidos à Abin falam sobre "alimentar" pessoas consideradas "malucas" que postam nas redes sociais tudo que eles passam. Os agentes conversavam com esses ativistas digitais por meio de perfis falsos.
"Segue o perfil do maluco que eu estou alimentando... mas usa uma conta fake,não segue com a sua não... tudo que eu estou passando ele publica... acabou de publicar mais uma",diz um dos servidores.
A PF ainda identificou que a disseminação de notícias falsas envolvia um servidor da Secretaria de Comunicação do Planalto. "A difusão de desinformação a partir de vetores de propagação cooptados por servidores públicos cedidos à Abin é estratagema para dificultar a vinculação da produção ilícita",anotou o relatório.