Rose em sua Terra Afefé,na Bahia — Foto: Divulgação/Lorena Mendes
Criada em Varzedo,cidade no interior da Bahia,Rose Afefé precisou de alguns anos para entender o valor de tudo o que a cercava naquele contexto. “A casa em que cresci era feita de barro. Mas não gostava dela,porque diziam que era ‘de pobre’”,recorda-se. Vieram,então,as experiências em cidades grandes,onde fez duas faculdades,uma de Artes e outra de Publicidade e Propaganda,e o desejo de aprender a construir com as próprias mãos. Consciente desse poder,teve a ideia de erguer uma cidade que emulava aquele interior da infância,só que diferente.
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Encorajada por uma mãe de santo,Rose comprou um terreno de três hectares em Ibicoara,também na Bahia,e construiu a Terra Afefé,uma microcidade com vendinha,teatro municipal e casas para abrigar quem topa participar das imersões que ela promove por lá. Tudo erguido com tijolos feitos a partir da terra do local,como a sua casa na infância. Porém,sem espaço para preconceitos de gênero e sexualidade que ainda acometem a vida no interior. “É um lugar onde posso receber pessoas de diferentes contextos sociais e tensionar essas micropolíticas”,resume a artista,de 36 anos,que vive entre Rio e Bahia. “Uma tentativa de juntar coisas que considero potentes,um pensamento libertário.”
Sala da exposição em cartaz na galeria A Gentil Carioca,no Rio — Foto: Divulgação/Pedro Agilson
Embora esteja a muitos quilômetros de distância do Rio,parte desse projeto pode ser apreciado na exposição “A vergonha quase me tirou a memória”,em cartaz na galeria A Gentil Carioca,até 24 de agosto. Na individual,Rose exibe uma arte que reverencia os saberes pelos quais subiu as construções e suas belezas. São esculturas com tijolos de barro,instalações e telas que reproduzem paredes e ambientes das casas.
Obras que,na opinião do artista Luiz Zerbini,autor do texto de apresentação da mostra,revelam uma artista “que é uma força da natureza”. “É muito emocionante quando ela pega pedaços da casa e mostra para nós,na parede”,afirma. Não há como discordar.
As construções em Afefé foram feitas a partir de recursos locais — Foto: Divulgação
A mostra é mais um desdobramento de uma série de reconhecimentos que a artista tem recebido nos últimos anos. No ano passado,ela foi uma das vencedoras do Prêmio FOCO ArtRio. “A Rose tem toda uma conceituação dentro de sua arte. Você não entende tudo,se não for a fundo”,destaca Brenda Valansi,idealizadora e presidente da feira carioca. “E são ideias originais,sem importações.”
Caminho seguido com os próprios pés — e mãos.