O advogado Frederick Wassef,durante entrevista coletiva no Palácio do Planalto — Foto: Cristiano Mariz/Agência O Globo
GERADO EM: 25/06/2024 - 03:01
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A Polícia Federal analisa o conteúdo dos telefones celulares do advogado Frederick Wassef,que representa o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL),antes de concluir as investigações sobre a venda de presentes dados ao estado brasileiro em viagens oficiais. Neste momento,estão sendo escrutinados arquivos de fotos e vídeos,além de mensagens de texto e áudio trocadas em aplicativos de conversas instalados nos aparelhos.
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O exame criterioso do material é um dos motivos pelos quais a PF ainda não concluiu o relatório final do inquérito. De acordo com as investigações,Wassef teria recomprado de uma joalheria americana um Rolex presenteado pelo governo saudita a Bolsonaro. A peça havia sido negociada com o estabelecimento pelo ex-ajudante de ordens do ex-presidente,tenente-coronel Mauro Cid.
Procurado,Wassef não retornou ao contato. Ao prestar depoimento em São Paulo,em agosto do ano passado,o advogado relatou que a transação foi declarada à Receita Federal e se deu em dinheiro vivo,o que teria lhe garantido um desconto de US$ 11 mil. Ele apresentou um recibo de compra de US$ 49 mil e outro recibo de saque no valor de US$ 35 mil.
— Eu comprei o relógio. A decisão foi minha. Usei meus recursos. Eu tenho a origem lícita e legal dos meus recursos. Eu tenho conta aberta nos Estados Unidos,num banco em Miami,e usei o meu dinheiro para pagar o relógio. O meu objetivo quando eu comprei esse relógio era exatamente devolvê-lo à União,ao governo federal do Brasil,à Presidência da República,isso inclusive por decisão do Tribunal de Contas da União — disse,na época.
Na semana passada,agentes da PF também realizaram novas diligências e colheram novo depoimento de Mauro Cid. O objetivo da oitiva era esclarecer a suposta negociação de uma nova joia,identificada em uma cooperação internacional do Federal Bureau of Investigation (FBI),o Departamento Federal de Investigação.
Em cidades como Miami (Flórida),Wilson Grove (Pensilvânia) e Nova Iorque (NY),os policiais conseguiram ouvir comerciantes,acessar imagens de câmeras de segurança e ainda obter documentos,como movimentações financeiras dos investigados.
— Foi nessa diligência do exterior,com a equipe do FBI,que se teve notícia dessa nova joias negociada e que não estava no foco da investigação. Houve um encontro de um novo bem vendido no exterior e isso talvez tenha sido um dos fatores para atrasar a conclusão do inquérito. Esse encontro robustece a investigação que se iniciou desde a apreensão no aeroporto — afirmou Andrei Rodrigues,diretor-geral da PF,há duas semanas.
Para o delegado Ricardo Andrade Saadi,diretor de Investigação e Combate ao Crime Organizado e à Corrupção (Dicor),a identificação dessa nova joia vendida pode ser um agravante na definição da pena em caso de eventual condenação dos envolvidos no esquema. São investigados crimes como peculato e organização criminosa.
Segundo o inquérito,auxiliares de Bolsonaro venderam ou tentaram comercializar ao menos quatro itens,sendo dois entregues pela Arábia Saudita e dois pelo Bahrein.
Na investigação,a PF aponta a existência de uma organização criminosa no entorno do ex-presidente que atuou para desviar joias,relógios,esculturas e outros itens de luxo recebidos por ele como representante do Estado brasileiro.
Entre os presentes negociados,estão relógios das marcas Rolex e Patek Phillipe,para a empresa Precision Watches,no valor total de US$ 68 mil,o que corresponde na cotação da época a R$ 346.983,60.
Nesse caso,Mauro Cid esteve pessoalmente em uma loja em Willow Grove para vender a peça. Uma foto do comprovante de depósito foi armazenada no celular do oficial.
Em depoimento sobre a investigação,Bolsonaro optou por ficar em silêncio.