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Ataque israelense a campo de refugiados no sul de Gaza deixa pelo menos 70 mortos, diz Ministério da Saúde do enclave

Jul 13, 2024 IDOPRESS
Reação de palestinos ao identificar corpo de um membro da família no necrotério do hospital Nasser,em Khan Yunis,em 13 de julho de 2024 — Foto: Eyad BABA / AFP

Reação de palestinos ao identificar corpo de um membro da família no necrotério do hospital Nasser,em Khan Yunis,em 13 de julho de 2024 — Foto: Eyad BABA / AFP

Um ataque israelense contra o campo de refugiados al-Mawasi,em Khan Younis,no sul de Gaza,deixou pelo menos 71 mortos e 289 feridos,informou o Ministério da Saúde de Gaza neste sábado. As Forças Armadas israelenses afirmaram terem realizado a ação em uma região onde "dois terrorista seniores do Hamas e outros terroristas se esconderam entre civis",e oficiais afirmaram ao New York Times que se tratava do líder da ala militar do grupo,Mohammad Deif. O Hamas,por sua vez,emitiu um comunicado afirmando que as alegações são "falsas". Até o momento,não há confirmação se o comandante estava no local e se foi morto na ação.

Em uma publicação no X,as Forças Armadas israelenses afirmaram que a ação,"baseada em informações precisas",ocorreu em uma "área aberta cercada por árvores,diversas construções e galpões". Uma autoridade israelense afirmou à rede BBC que a agressão ocorreu em uma área onde havia "apenas terroristas do Hamas e nenhum civil". Al-Mawasi,uma ampla faixa de terra na costa de Gaza,foi designada por Israel como uma zona humanitária. Muitos palestinos fugiram para a região à medida que as tropas israelenses se deslocavam para a cidade de Rafah,no extremo sul do enclave,próximo à fronteira egípcia.

— O que fizemos? — gritou uma mulher na rua,em imagens divulgadas pela AFPTV. — O que fizemos? Estávamos apenas sentados perto da praia.

Dois oficiais israelenses disseram ao New York Times que Mohammed Deif foi alvejado enquanto estava na superfície,após deixar a rede de túneis do grupo que se estende sob o enclave. O jornal americano,que conversou ao todo com três oficiais em condição de anonimato,informou que todos afirmaram que o líder estava com Rafah Salameh,o principal comandante do Hamas em Khan Younis,no momento do ataque.

Deif,que deu voz ao anúncio do ataque terrorista de 7 de outubro contra o sul de Israel,tornou-se comandante militar supremo das Brigadas al-Qassam em julho de 2002. Conhecido como “fantasma”,é um dos homens mais procurado por Israel desde 1995. Sobreviveu a pelo menos cinco tentativas de assassinato nas últimas duas décadas. Em maio deste ano,o procurador-chefe do Tribunal Penal Internacional (TPI),Karim Khan,solicitou um mandado de prisão contra Deif e outros membros do Hamas por crimes de guerra e contra a Humanidade cometidos durante a guerra em Gaza.

Em uma declaração,o Hamas rejeitou as alegações de que líderes do grupo estariam no campo de refugiados,afirmando que "são meramente uma maneira de encobrir a grande escala do horrível massacre" cometido contra "uma área que está lotada com mais de 80 mil pessoas deslocadas."

— Todos os mártires são civis e o que aconteceu foi uma grave escalada da guerra de genocídio,apoiada pelo apoio americano e pelo silêncio mundial — afirmou o alto funcionário do grupo Abu Zhuri à agência de notícias Reuters,destacando que a ação demonstrava que o governo israelense não estava interessado em chegar a um acordo de cessar-fogo.

Ataque a campo de refugiados no sul de Gaza deixa pelo menos 70 mortos

Os militares de Israel disseram que estão "investigando" o caso. O gabinete do ministro da Defesa israelense,Yoav Gallant,disse que o ministro estava realizando consultas especiais à luz dos "desenvolvimentos em Gaza",informou a Reuters.

'Despedaçados'

Mais cedo,as autoridades de saúde do enclave palestino afirmaram que pelo menos 20 pessoas tinham sido mortas no ataque. Esse número,atualizado posteriormente,chega a cem na contagem do escritório de imprensa do Hamas,citado pela Reuters,incluindo membros do Serviço de Emergência Civil. Mohammed al-Mughair,membro da equipe de resgate do enclave palestino,afirmou à rede catari al-Jazeera que o Exército israelense atacou equipes que estavam a caminho para prestar socorro às vítimas.

— Enquanto nos movíamos para a cena do incidente,[nós] fomos alvejados; dois veículos foram alvejados diretamente e isso levou à morte de dois de nossos colegas. Outros seis ficaram feridos,três deles gravemente feridos — afirmou,acrescentando que a Defesa Civil recuperou até agora 360 mortos e feridos: — A maioria deles são crianças.

O Crescente Vermelho afirmou que suas equipes atenderam 102 pessoas feridas e recolheram 23 corpos. Desse total,70 feridos e 21 corpos foram transferidos para o Hospital de Campanha al-Quds do Crescente Vermelho e 22 para o Hospital al-Amal em Khan Younis.

O médico Mohammed Abu Rayya que atende em um hospital que está recebendo as vítimas contou a BBC que este é "um dos dias sombrios". Ele descreveu que era como estar no "inferno",e destacou que muitas vítimas eram civis,a maior parte mulheres e menores. A instituição Medical Aid for Palestinian (MAP),também procurada pela rede britânica,disse que o complexo hospitalar Nasser,está "sobrecarregado" e não tem mais condições de funcionar.

Vídeos que circulam nas redes sociais mostram grandes colunas de fumaça subindo,além de vítimas ensanguentadas sendo socorridas em macas. Também é possível ver pessoas tentando vasculhar os escombros com as mãos. Sirenes soavam e fumaça subia ao longe enquanto homens usavam cobertores para recolher as vítimas. Algumas estavam nitidamente além de qualquer ajuda e jaziam mortas na estrada.

Uma testemunha descreveu à rede BBC que o campo de refugiado parecia ter sido atingido por um "terremoto". Outros palestinos disseram à Reuters que o ataque foi uma surpresa,já que a região estava tranquila.

— Eles se foram,minha família inteira se foi... onde estão meus irmãos? Eles se foram,eles se foram. Não sobrou ninguém — disse uma mulher,que não quis se identificar,à agência de notícias britânica. — Nossos filhos estão em pedaços,eles estão em pedaços. Que vergonha (de vocês).

Este é o mais recente ataque contra o campos de refugiados que deixa um grande número de mortos. No fim de maio,um incêndio matou 45 pessoas em um acampamento na região . As Forças Armadas de Israel disseram que tinham como alvo e mataram dois militantes seniores do Hamas no noroeste de Rafah,mas acrescentaram que suas munições sozinhas não poderiam ter causado o incêndio.

Em outro incidente na mesma época,um funcionário da Defesa Civil de Gaza disse que um ataque israelense matou 21 pessoas no campo de refugiados. O Exército israelense rejeitou as alegações,dizendo que "não atingiu" a área humanitária designada em al-Mawasi.

No fim do mês passado,o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) disse que 22 pessoas foram mortas em um bombardeio que danificou seu escritório em Gaza,que é cercado por centenas de pessoas deslocadas que buscaram abrigo no local. Um porta-voz militar israelense disse que não havia "nenhuma indicação" de um ataque israelense na área humanitária de al-Mawasi naquele momento.

A guerra começou com o ataque do Hamas em 7 de outubro ao sul de Israel,que resultou na morte de 1,2 mil pessoas,a maioria civis,e no sequestro de cerca de 250 pessoas. Desse total,116 permanecem em Gaza,incluindo 42 que,segundo os militares,estão mortas. Em resposta,Israel respondeu com uma ofensiva militar que matou pelo menos 38.443 palestinos,também em sua maioria civis,de acordo com um balanço do Ministério da Saúde de Gaza,divulgado neste sábado. (Com AFP e NYT)

* Em atualização