Manifestantes com cartaz 'feministas com a extrema direita' em protesto em Bordeaux,na França — Foto: AFP
GERADO EM: 23/06/2024 - 17:34
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A apenas uma semana do primeiro turno das eleições legislativas na França,milhares de pessoas foram às ruas neste domingo protestar contra a extrema direita,denunciando o perigo do partido Reagrupamento Nacional (RN) para os direitos das mulheres. A manifestação acontece no momento em que o RN — que lidera as pesquisas de intenção de voto — atrai cada vez mais o eleitorado feminino,após esforços de moderação da sua líder política,Marine Le Pen.
— Marine Le Pen foi bem-sucedida em seu esforço para desdemonizar seu partido,mas não nos deixaremos enganar — disse Chloe Rougeyres,32 anos,à Bloomberg,enquanto segurava um cartaz em oposição a Jordan Bardella,escolha do partido para primeiro-ministro caso conquiste a maioria no Parlamento. — O problema é que ele pode enganar algumas pessoas que não estão acompanhando a política de perto.
Contexto: Após convocar eleições antecipadas,Macron pede união de moderados contra 'extremos' na FrançaHá uma semana: Milhares de pessoas protestam contra a extrema direita na França
Em Paris,75 mil pessoas marcharam neste domingo,apontam os organizadores,após a convocação de mais de 200 associações,ONGs e sindicatos. Segundo as autoridades,porém,o número de manifestantes na capital foi 13 mil. Ao todo,53 protestos foram contabilizados ao redor do país,reunindo 33 mil manifestantes,de acordo com a polícia francesa.
Vestindo roxo,cor emblemática do movimento feminista,manifestantes denunciaram o "feminismo de fachada" da extrema direita,com ataques diretos ao RN. Os cartazes exibiam dizeres como "Vá votar antes que ele se torne um fascista","O machismo é a cama do fascismo",e até alertas diretos como "Acorde,amigo,eles enlouqueceram".
— Toda vez que a extrema direita chega ao poder em algum lugar,ela ataca o direito ao aborto,e não haverá exceção francesa — disse Sarah Durocher,presidente da organização Planejamento Familiar,à imprensa.
Mulheres segurando cartazes contra o fascismo em protesto feminista na França: "Vá votar antes que ele se torne um fascista" e "Reunião dos Nazistas",em referência à sigla doRN — Foto: AFP
Anos últimos anos,Le Pen empreendeu esforços consideráveis para que o partido se desvinculasse de seu pai e cofundador do RN,Jean-Marie Le Pen,vistos por muitos como misógino,antissemita,racista e homofóbico. Entre suas ações,Le Pen expulsou seu pai do RN e se rebatizou como uma "feminista que não é hostil aos homens".
Le Pen também alterou sua posição sobre o aborto e apoiou o projeto de lei do presidente francês Emmanuel Macron para consagrar o direito ao procedimento na Constituição,aprovado este ano. No entanto,12 de seus correligionários votaram contra a medida e outros 14 se abstiveram,em um total de 88. No Parlamento Europeu,os deputados do RN também foram contra ou se abstiveram de votar em propostas relativos ao direito ao aborto e contra o assédio.
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Nas urnas,no entanto,o trabalho de Le Pen parece ter surtido efeito. Segundo uma pesquisa da Ipsos,o número de mulheres que votaram no RN nas eleições para o Parlamento Europeu saltou de 10% em 2019 para 30% em 2024.
Para Alix,de 29 anos,que se recusou a fornecer seu sobrenome,a liderança do RN nas pesquisas não é motivo para desistir.
— O meio feminista está entre as últimas franjas da população em que eles ainda não entraram totalmente — disse ela no protesto à AFP. — Não vejo como Marine Le Pen poderia ser uma feminista.
Bardella,candidato a premier francês do RN,também vem tentando moderar o discurso e atrair o voto feminino.
— Serei o primeiro-ministro que garantirá infalivelmente os direitos e as liberdades de todas as meninas e mulheres da França — disse ele em um vídeo publicado nas redes sociais na semana passada. — A igualdade entre homens e mulheres,a liberdade de se vestir como quiser,o direito fundamental de controlar seu próprio corpo,esses são princípios inegociáveis.
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De acordo com duas pesquisas publicadas neste domingo,o Reagrupamento Nacional (RN) e seus aliados têm 36% das intenções de voto. A aliança inclui o conservador Os Republicanos (LR),cujo presidente,Éric Ciotti,havia sido expulso por colegas após propor a união com RN. Ele foi restituído ao cargo por determinação da Justiça,e a coalizão foi confirmada posteriormente.
O presidente do RN,Jordan Bardella,tem dito repetidamente que só concordará em ser primeiro-ministro se o partido obtiver todas as 289 necessárias para maioria absoluta — um cenário que parece difícil,mesmo com liderança da sua coalizão nas pesquisas,uma vez que a votação acontece em dois turnos. Após o pleito no próximo domingo,os franceses voltarão às urnas no dia 7 de julho.
O temor de uma vitória do RN levou a oposição de esquerda a estabelecer a Nova Frente Popular,uma aliança liderada por socialistas,ecologistas,comunistas e o partido A França Insubmissa (LFI,em francês),do veterano Jean-Luc Mélenchon. A coalizão aparece em segundo lugar nas pesquisas,com até 29% dos votos.
A aliança centrista de Macron tem 20% das intenções,segundo levantamentos recentes,e a popularidade do presidente está em queda livre,com 28% de aprovação — embora não tenha atingido o nível registrado durante a crise dos 'coletes amarelos' em 2018.
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A decisão inesperada do presidente francês de convocar eleições legislativas antecipadas após o fracasso de sua coalizão nas eleições europeias de 9 de junho diante da extrema direita,que obteve o dobro dos votos dos centristas,provocou um "terremoto político" de consequências incertas,segundo analistas. Ele defendeu a dissolução da Câmara Baixa como uma opção necessária para "esclarecer" o panorama político.
Macron,no poder desde 2017,enfrenta dificuldades para concretizar seu programa de governo desde que perdeu a maioria absoluta na Assembleia Nacional nas eleições legislativas de junho de 2022. Com mandato até 2027,o líder francês descartou a possibilidade de renunciar,independente do resultado das legislativas,prometendo,neste domingo,"trabalhar até maio de 2027".
"O governo que virá,que refletirá necessariamente o voto de vocês,espero que reúna republicanos de diversas sensibilidades que terão a coragem de opor-se aos extremos",escreveu o presidente em uma carta aos franceses neste domingo.
O chefe de governo da Alemanha,o chanceler Olaf Scholz,expressou sua preocupação com a possibilidade de chegada ao poder da extrema direita.
— Espero que os partidos que não são [Marine] Le Pen,por assim dizer,tenham sucesso nas eleições. Mas isso tem de ser decidido pelo povo francês — declarou ao canal ARD neste domingo.
O jornal Le Monde publicou neste domingo uma carta de 170 diplomatas e ex-diplomatas. No texto,o grupo alerta que uma vitória do RN "enfraqueceria a França e a Europa" no momento em que a "guerra está ao nosso lado".