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Pacote fiscal avança no Congresso desidratado, e dólar recua. É suficiente para acalmar o mercado? Analistas respondem

Dec 20, 2024 IDOPRESS
Mercado financeiro segue em dúvida sobre capacidade do governo de equilibrar contas públicas — Foto: Freepik

Mercado financeiro segue em dúvida sobre capacidade do governo de equilibrar contas públicas — Foto: Freepik

RESUMO

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GERADO EM: 19/12/2024 - 23:46

"Pacote fiscal avança,mercado aguarda mais ação"

Pacote fiscal desidratado avança no Congresso,dólar recua após ação do BC. Analistas céticos sobre impacto real. Aprovação traz alívio momentâneo,mas mercado ainda espera mais esforço fiscal. CDS em alta reflete desconfiança. Mercado aguarda ação concreta do governo.

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Depois de o dólar comercial atingir ontem um novo recorde intradiário,de R$ 6,30,mesmo depois de um leilão do Banco Central (BC) no mercado à vista,o pacote fiscal proposto pelo governo começou a avançar no Congresso,ainda que desidratado. O BC fez ainda uma segunda intervenção no câmbio,e a cotação do dólar finalmente caiu.

Recuo na escalada: Após maior intervenção do BC no câmbio desde 1999,dólar cai 2,3% e fecha em R$ 6,12Entenda: BC faz intervenção recorde no dólar. Mas,afinal,quanto o Brasil tem em reservas cambiais?

O dólar encerrou em forte queda de 2,32%,a R$ 6,1216,quando a Câmara dos Deputados já havia enviado ao Senado parte das medidas relacionadas ao pacote de corte de gastos,ainda que com algumas mudanças que reduzem o impacto fiscal esperado pela equipe econômica.

Plenário da Câmara dos Deputados vota projetos do pacote fiscal — Foto: Brenno Carvalho/Agência O Globo

Depois do fechamento do mercado,o pacote avançou ainda mais na Câmara e no Senado. A dúvida é será suficiente para acalmar o mercado hoje,após a escalada contínua do dólar nos últimos dias refletindo a perda de confiança dos investidores na capacidade do governo de equilibrar as contas públicas.

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No início da tarde de quinta,a aprovação do texto-base da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do pacote fiscal em primeiro turno na Câmara ajudou a levar o dólar à mínima do dia,em R$ 6,1045. Após o fechamento do mercado,os deputados concluíram a votação dos dois projetos e da PEC que integram o pacote fiscal.

No Senado só falta voltar nesta sexta um projeto de lei,o que prevê mudanças nas regras de reajuste do salário mínimo,além de ampliar a fiscalização para o recebimento do Benefício de Prestação Continuada (BPC).

Ontem,os senadores finalizaram a votação da PEC que cria novas regras para o abono salarial (PIS/Pasep),restringindo o acesso ao benefício,e também amplia o uso do Fundeb. O Senado também ratificou a lei complementar que proíbe a concessão de novos benefícios fiscais em caso de déficit nos cofres públicos.

'Governo vendeu ideia de ajuste mais forte'

O economista-chefe da MB Associados,Sergio Vale,afirma que a aprovação do pacote fiscal não muda muito a percepção do mercado sobre a potência das medidas para reduzir a preocupação com a situação fiscal.

— O problema de base é o pacote em si. A aprovação apenas sinaliza resultados primários extremamente baixos e aquém do que precisava. Esse sabor de insatisfação do mercado vai permanecer — afirmou.

Para Vale,R$ 6 é o novo R$ 5 para a cotação da moeda americana e o “governo precisa tomar cuidado para os R$ 6 não virarem R$ 7”:

— O governo vendeu a ideia de que ia partir para um ajuste fiscal mais forte,mas o governo foi mais refratário à ideia do que o Ministério da Fazenda vendeu.

Economista-chefe da MB Associados,Sergio Vale — Foto: Claudio Belli/Agência O Globo

Segundo o economista,o mercado espera que haja,com um novo presidente em 2027,um ajuste fiscal “mais agressivo”,que deveria ter sido feito no início do governo:

— O Banco Central está fazendo um esforço histórico,usando reservas de forma agressiva para segurar o dólar entre R$ 6,10 e 6,20,usando um arsenal enorme. Mas chega o momento em que o arsenal se esgota. O governo não está se preparando para tempos difíceis.

Alívio de curto prazo

Daniel Couri,consultor do Orçamento do Senado,afirma que a aprovação do pacote de corte de gastos,que já foi parcialmente desidratado no Congresso,traz um alívio de curto prazo,mas a preocupação com a trajetória da dívida continua.

— O governo poderia estar mais comprometido com o ajuste,tirar o pé do acelerador dos gastos. A situação fiscal não é trágica,mas o governo não está sinalizando que está preocupado com o futuro das contas públicas. O governo poderia,por exemplo,indicar que pretende gastar menos. Só disse que vai gastar o mesmo — avaliou.

Campos Neto e Galípolo influenciaram

Além do esforço concentrado do Congresso,o Banco Central também não economizou (literalmente) esforços para ampliar a oferta de dólares no mercado,o que favoreceu a queda da cotação da moeda americana. Fez nada menos que a maior intervenção diária no câmbio desde 1999,quando o país adotou o câmbio flutuante.

A primeira operação,anunciada na véspera,foi de US$ 3 bilhões. A segunda,que não estava prevista,foi de US$ 5 bilhões — ou seja,um total de US$ 8 bilhões.

Roberto Campos Neto e Gabriel Galípolo: atual e futuro presidente do Banco Central — Foto: Cristiano Mariz/Agência O Globo

Contribuíram para esse movimento as declarações do presidente do BC,Roberto Campos Neto,que ao lado de seu futuro substituto,Gabriel Galípolo,de que a autoridade monetária agirá “quando necessário”. No início da noite de ontem,o BC anunciou que fará mais dois leilões hoje,um de linha e um no mercado à vista. Veja aqui a diferença entre os dois tipos.

Real já desavalorizou mais de 26%

Apesar da queda de ontem,o real continua a ser a divisa mais castigada frente ao dólar,entre as moedas mais negociadas,com desvalorização de 26,15% acumulada no ano.

Para analistas,o pacote fiscal ainda não é suficiente para o governo recuperar a credibilidade junto ao mercado,que quer ver maior esforço para equilibrar as contas públicas e cumprir as metas fiscais e estabelecer um horizonte de redução do endividamento.

Para Danilo Zogbi,economista-chefe da Nomad,as declarações conjuntas de Galípolo e Campos Neto “sem dúvidas” ajudaram a aliviar a pressão sobre o dólar,mas ainda falta o governo fazer sua parte no lado fiscal:

— (Ainda) é um processo de desestresse (no câmbio),mas o Banco Central até o momento tem feito o seu papel de um jeito muito certo.

‘Mercado vai testar’

Alexandre Schwartsman,ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC,avalia que a autoridade monetária pode não conseguir manter este mesmo ritmo de leilões por muito tempo. Segundo ele,ainda que a moeda tenha sido contida hoje,o principal fundamento que afeta o câmbio não foi estruturalmente alterado,que é a política fiscal no país.

— Em algum momento você começa a ver a perda do ritmo. O mercado vai testar até quando o BC vai intervir na moeda. E quando sentir esse nível,a coisa vai ficar muito feia. Não adianta lidar com essa questão com intervenção. Teve um efeito de R$ 6,25 para R$ 6,12. Mas ainda está bem acima de R$ 6 — afirma o economista.

O economista Alexandre Schwartsman,ex-diretor do Banco Central — Foto: Leo Pinheiro/Valor

Schwartsman também menciona que ainda há incertezas sobre a atuação do BC sob o comando de Galípolo. Isso porque,mesmo com mais duas altas na Selic já antecipadas pelo Comitê de Política Monetária (Copom) na ata da última reunião,o cenário a longo prazo segue nebuloso.

— Na reunião de março,já sem (projeção),vamos ver o que é. E as incertezas até março podem causar pressão sobre a moeda — declara Schwartsman.

‘Não acredito que seja o suficiente’

Igliori,da Nomad,avalia que apesar de a rapidez da tramitação das medidas ser necessária,é importante que novos ajustes sejam propostos:

— É importantíssimo que a PEC seja aprovada com a menor desidratação possível. Mas não acredito que seja o suficiente para reverter toda deterioração de expectativa que vemos.

Schwartsman também sinaliza que a trajetória da dívida pública segue preocupante mesmo com a aprovação e não enxerga que estas medidas possam estabilizá-la:

— O Congresso vai aprovar,(...) mas não muda o nome do jogo. A dívida é crescente,portanto,o prêmio de risco é crescente.

Ontem,o Credit Default Swap (CDS) de cinco anos,uma medida para o risco-país,subiu ao maior patamar em um ano e sete meses. Ele chegou a alcançar 223 pontos,mas caiu após as declarações do atual e futuro chefe do BC,e terminou o dia a 211 pontos. É o maior nível desde 31 de maio do ano passado.

O CDS é uma métrica que indica a possibilidade de calote por parte de um país ou ente privado. A alta do índice,sinaliza uma menor confiança. No ano,o CDS de cinco anos tem alta percentual de 59%.

Os juros futuros fecharam em queda ao longo de toda a curva. O movimento sustentou o Ibovespa,que recuperou parte das perdas de quarta-feira e encerrou em alta de 0,34%,puxado por ações de empresas voltadas ao mercado doméstico.

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