Pobreza na Ilha de Marajó — Foto: Daniel Marenxo/Agência O Globo
GERADO EM: 09/12/2024 - 21:43
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‘O Brasil não é um país pobre. É um país injusto.’ A célebre frase do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso me veio à cabeça quando comecei a ler os mais recentes números do IBGE sobre a redução da pobreza em nosso país. Bem como suas nuances.
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Pela primeira vez a miséria ficou abaixo de 5% e,segundo o pesquisador Marcelo Neri (FGV),estamos no menor patamar histórico dos índices de miséria e pobreza. Mas a desigualdade permanece a mesma.
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Aprofundando esse dado geral e olhando para nossa realidade,chegamos a outro,aparentemente positivo,mas que embute a chaga que parece ser a sina da nossa sociedade: a redução do número de jovens “nem-nem”,aqueles que não trabalham nem estudam.
Os números recentes mostram que,hoje,eles são 10,3 milhões,ou 21,2% da população,o menor registro da série histórica desde 2012. No entanto,quando giramos a lupa para os 10% mais pobres,esse índice sobe para quase 50%,ante 6,6% entre os 10% mais ricos. É um abismo!
A “estabilidade” da desigualdade,medida pelo índice de Gini,mostra que,no fim das contas,seguimos sendo um país injusto,onde as oportunidades geradas pelo desenvolvimento e crescimento econômico chegam mais rapidamente aos privilegiados de sempre,das camadas mais favorecidas da população.
O mesmo levantamento mostra que o fosso só não aumentou graças a políticas públicas de inserção social e distribuição de renda,como o Bolsa Família e o programa Pé-de-Meia. E aí está o papel do Estado numa sociedade tão desigual como a nossa.
Programas de transferência de renda são fundamentais para reduzir o número de miseráveis. E devem vir associados a outros,estruturantes,como projetos de educação profissionalizante,que capacitam nossos jovens a se inserir no mercado de trabalho.
Como secretário da Juventude do prefeito Eduardo Paes,criei os Espaços da Juventude em sete comunidades cariocas,com cursos voltados à tecnologia criativa,chamada de Indústria 4.0 e 5.0. O resultado foi fantástico. Jovens de favela construindo robôs,operando drones,aprendendo programação móvel. Uma realidade que eles jamais imaginavam sequer existir.
Com a Unesco,criamos o maior projeto de formação de líderes comunitários da América Latina. As favelas cariocas viram seus filhos (ou “suas crias”,como dizem agora) recebendo bolsa de estudos para se qualificar,refletir sobre os problemas locais e encontrar soluções para eles. É o jovem das periferias no centro do debate e do orçamento; estudando,pensando,refletindo e resolvendo os próprios problemas.
É com iniciativas assim que mudamos uma sociedade desigual como a brasileira. Gerando conhecimento,estimulando a criatividade tão exaltada do nosso povo. Não faltam exemplos nas zonas periféricas das nossas cidades,lutando contra todas as adversidades e,ainda assim,produzindo arte,cultura e muito mais. Como costumo dizer,dentro de cada um há um talento pronto para ser desenvolvido. Talento,temos em todos os lugares. O que falta são oportunidades para esses talentos se desenvolverem.
*Salvino Oliveira,gestor público e vereador eleito (PSD),foi secretário municipal da Juventude do Rio