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Joia de Burle Max: jardins do MAM passam por grande recuperação após 24 anos, para o G20

Jul 19, 2024 IDOPRESS
Obras de reforma do prédio do MAM e dos jardins de Burle Marx no entorno. O local vai ser a sede do G-20,em novembro — Foto: Márcia Foletto

Obras de reforma do prédio do MAM e dos jardins de Burle Marx no entorno. O local vai ser a sede do G-20,em novembro — Foto: Márcia Foletto

A nova paisagem ao redor do Museu de Arte Moderna chama atenção. No lugar do gramado verde,terra mexida; em volta das 48 palmeiras imperiais,redes de proteção; no pátio que contorna o museu,valas e rachaduras. O cenário remexido é temporário. Faz parte do movimento do Comitê Organizador do G20 para arrumar a casa e receber os chefes de estado das maiores economias mundiais,em novembro. Repaginar o jardim,porém,não deixa de ser uma homenagem a Roberto Burle Marx semanas após se completar 30 anos da morte do maior paisagista brasileiro. Foi ele o autor dos Jardins do MAM,cujo projeto é de 1955,e do paisagismo de todo o Aterro do Flamengo,de 1961.

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Obras de reforma do prédio do MAM e dos jardins de Burle Marx no entorno. O local vai ser a sede do G-20,em novembro — Foto: Márcia Foletto

No processo de revitalização será feita a readequação do Parque do Flamengo ao projeto original de paisagismo projetado por Burle Marx.

— Agora estamos mapeando as espécies e,após o levantamento,um agrônomo vai fazer o diagnóstico de cada uma. Algumas cresceram demais e fazem sombra,é preciso podar; outras não estão onde deveriam e serão explantadas. E a vegetação original que morreu será replantada — afirma Denise Pinheiro,paisagista do escritório Burle Marx.

O Parque do Flamengo tem tombamento federal e é considerado Patrimônio Mundial da Unesco. A maioria das espécies,árvores escultóricas,como jasmim-manga e pata-de-elefante,foram plantadas pelo próprio paisagista,na década de 1950. Inicialmente,as plantas eram cultivadas no sítio,em Petrópolis,com estudantes e botânicos,e posteriormente trazidas para a capital.

A recuperação da área verde do Aterro faz parte de um extenso projeto do Comitê do G20 no Rio. As obras e melhorias,aos cuidados da prefeitura,vão custar R$ 32 milhões. No MAM,incluem ainda a revisão dos elevadores,dos sistemas elétrico e hidráulico,além do tratamento e limpeza das fachadas.

Foram fechados dois contratos de licitação via Companhia Carioca de Parcerias e Investimentos (CCPar),um dá conta das obras de reforma estrutural e das instalações do MAM e foi orçado em R$ 17,5 milhões. O outro inclui as obras de urbanização do entorno,no valor de R$ 14,7 milhões. Deste fazem parte os trabalhos de recomposição paisagística das áreas de jardim (R$ 3,5 milhões).

O entorno do museu,no Parque do Flamengo,também passará por melhorias,como a impermeabilização e recuperação do jardim idealizado por Burle Marx,incluindo o restauro das pedras portuguesas e calçadas,nova sinalização e monitoramento por câmeras conectadas ao Centro de Operações Rio (COR).

— O Aterro estava muito abandonado,o gramado péssimo,a orla muito largada,sem manutenção. Depois de restaurar,tem que manter o cuidado — comenta o fotógrafo Filipe Gerias,de 34 anos,que costuma usar o cenário para clicar clientes.

Arrumando a casa

Esta é considerada a primeira grande intervenção no MAM e no Aterro do Flamengo dos últimos 24 anos. A previsão de entrega é para outubro. Depois deste prazo,a União poderá fazer adaptações provisórias para a reunião do G20.

— Em 2000,houve o projeto Riomar e o parque foi entregue todo atualizado. Desde aquele ano,não tinha sido feito um trabalho grande como o de agora— lembra Isabela Ono,gestora do Escritório Burle Max,que também tem como sócios Julio Ono e Gustavo Leivas.

Um dos primeiros espaços públicos configurado em linhas modernas,o Parque do Flamengo tem 1,2 milhão de metros quadrados,é dividido em 11 setores e tem mais de 240 espécies brasileiras e tropicais. Isabela,que é arquiteta,diretora do Instituto Burle Marx (criado como uma organização de sociedade civil e pensado para preservar,catalogar e tornar público o acervo produzido pelo escritório do mestre do paisagismo) e filha de Haruyoshi Ono,sócio de Burle Marx por mais de 30 anos,explica por que o escritório foi acionado para coordenar as intervenções no projeto paisagístico,apesar de a recuperação ser comandada pela prefeitura:

— Projeto históricos têm uma autoria. E a revitalização tem que estar de acordo com essa assinatura. Quando se faz uma recuperação de jardim,muitas vezes notam-se mudanças porque ele é efêmero: pode ter aparecido uma área de sombra que antes não tinha,por exemplo. Então,é preciso ter sensibilidade para reformar preservando o que está no conceito — diz a especialista.

Em caminhada pelas alamedas do Parque na manhã de ontem,turistas se deparavam com a paisagem transformada. As amigas paulistas Jeimy Cortez,e Lara Barbosa,de 33,do interior de São Paulo,ficaram frustradas ao ver as obras no lugar do famoso cenário de fotos e filmes.

— É muito lindo aqui. Espero que a restauração melhore o ambiente,que é muito agradável,e que eu encontre um jardim mais bonito na próxima vez que vier — torce a mais nova.

Cem jardins

Além dos jardins do Aterro,no ano em que também se completam 115 anos do nascimento de Roberto Burle Marx,a memória do mestre do paisagismo ganha outros afagos. O maior deles é o planejamento,pelo Instituto Burle Marx,da Casa Cavanelas. Localizada em Pedro do Rio,distrito de Petrópolis,na Região Serrana,ali será a abrigada a reserva técnica do Instituto,acessível ao público e projetada para,além de guardar o acervo,possibilitar que seu espaço seja usado para discussões de temas que vão de paisagismo a emergências climáticas. A previsão de abertura é para 2028.

— Neste momento,estamos fazendo os planos de viabilidade socioambiental,licenciamento... A casa foi projetada há exatos 70 anos mas é muito atual e possibilita o que o Instituto preserva: legado,vivências educativas,estéticas,o paisagismo. Queremos atrair pessoas para a experimentação do lugar,do jardim,de um espaço. É um lugar único que era uma residência privada e foi doada para um projeto do Burle Marx. É bonito pensar como os próprios lugares são ressignificados. A ideia é cada vez mais tornar esse legado inclusivo e diverso. Acho que Burle Marx e Haruyoshi estariam felizes com esse projeto — diz Isabela Ono.

Para tirar os planos do papel,no entanto,o Instituto,que é uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos,dependerá de apoio,sobretudo para os trabalhos que envolvem a salvaguarda,o transporte e a digitalização do acervo,que conta com 150 mil itens. Para 2024 e 2025,o Instituto tem outros projetos que estão sendo encaminhados,entre eles exposições fora do Rio e do Brasil,uma publicação que discutirá questões ambientais e a disponibilização,no site,de um mapa georreferenciado em que o público poderá visitar virtualmente 100 jardins de Burle Marx.