Ginecologia natural — Foto: Shutterstock
Executiva de uma grande empresa,a advogada Marcela Santos,de 35 anos,não marca reunião importante sem consultar sua mandala lunar. Trata-se de uma espécie de diário com marcações sobre seu ciclo menstrual conectado às quatro fases da lua. “Aprendi a planejar minha rotina,sempre que possível,a partir desses ciclos que ajudam a identificar os períodos em que estou mais propensa ao recolhimento ou com mais energia ou mais intuitiva... Levo para onde for”,conta Marcela. Esta é uma das práticas da ginecologia natural — alternativa focada no uso de plantas medicinais,que vem ganhando adeptas,com um olhar para o autoconhecimento e os fatores emocionais por trás de queixas físicas.
A linha ensina a mulher a observar o funcionamento de seu corpo e ter autonomia,questiona a prescrição excessiva de hormônios e explora recursos como vaporização (sentar-se sobre um recipiente com água quente com ervas) e chás. Sem deixar de lado exames ginecológicos e medicamentos alopáticos,quando necessário. Entre as plantas usadas para promover saúde e bem-estar estão camomila,artemísia e calêndula.
Os conceitos da ginecologia natural vêm sendo espalhados por médicas e terapeutas que oferecem atendimentos,mentorias,cursos on-line e comandam perfis nas redes sociais com milhares de seguidores. Considerada uma das precursoras,a ginecologista Bel Saide (@ginecologianatural) trilha esse caminho desde 2016,quando conheceu o movimento vindo da América Latina. “Não se trata de rompimento com a Ciência,mas de foco na saúde integral,aproveitando um legado precioso ancestral com práticas realizadas durante milênios por mulheres. Acredito na sinergia com a medicina moderna”,defende a médica.
Muitas mulheres procuram a ginecologista Debora Rosa (@ginecologistanatural) após tentativas convencionais para tratar problemas como candidíase,infecção urinária de repetição,cólicas,cistos e infertilidade. “É impressionante como há um perfil similar entre as pacientes que chegam com uma mesma queixa. Uma ligação clara das emoções com os sintomas”,afirma. Graduada e com mestrado na UFRJ,Debora conta que desde recém-formada se incomodava com a quantidade de pílulas prescritas não apenas como método anticoncepcional e mergulhou no estudo de fitoterápicos e psicossomática. “Passamos a vida inibindo nossos hormônios e depois,na menopausa,queremos repor. Nessa fase,a natureza está mostrando que a mulher não precisa mais deles. E a ginecologia natural tem muitos recursos para lidar com as alterações que surgem.”
Com avó benzedeira,a bióloga e terapeuta Anna Sazanoff (@saberesdamaeterra) tem contato com os costumes de povos nativos desde criança e embrenhou-se pelo tema há duas décadas. Hoje,realiza expedições pela América Latina,dá aula na NOS Escola e cursos de capacitação. Em seus atendimentos,com duas horas de duração,ensina,por exemplo,como fazer a mandala lunar,inclusive,para quem não menstrua mais,guiando-se apenas pelos ciclos da lua. “Existe uma dança harmônica da mulher com os ciclos da natureza. E não há nada de misticismo nisso”,garante.
Da medicina convencional,a ginecologista e obstetra Viviane Monteiro,que atua num dos consultórios mais movimentados do Rio,enxerga com bons olhos uma tendência natural ganhando espaço,combinada à alopatia. “O importante é sempre a avaliação individual. Nada impede que a paciente se beneficie com uma linha naturalista e,ao mesmo tempo,reponha hormônios,por exemplo. Em alguns casos,é muito positivo”. E pondera: “Qualquer tratamento precisa ser feito com segurança,respaldado por evidências científicas”.