"Os grandes projetos de gás vão dar grande alívio [financeiro] na próxima década,melhorando o crescimento económico e a sustentabilidade da dívida a longo prazo",escreve a S&P numa análise sobre a economia moçambicana,na qual alerta que "os riscos de atrasos nos pagamentos das obrigações soberanas vão continuar elevados até a produção aumentar substancialmente".
A nota da S&P,enviada aos investidores e a que a Lusa teve acesso,surge na sequência de vários atrasos no pagamento de obrigações em moeda local no ano passado,e de um aumento significativo dos custos com o serviço da dívida externa nos próximos anos.
"O risco de refinanciamento na dívida local comercial continua elevado,e os pagamentos da dívida externa vão aumentar fortemente a partir de 2028",na sequência da reestruturação da dívida soberana que Moçambique fez no final da década passada,depois de serem conhecidas dívidas ocultas que atiraram o país para o incumprimento financeiro e criaram uma crise de confiança da qual o país ainda está a recuperar.
"O Governo tem usado a dívida local mais cara para suprir grandes défices orçamentais,e o perfil de maturidade é elevado; a dívida em Eurobonds vai começar a ser amortizada a partir de 2028,antes do início da produção dos megaprojetos de gás",o que cria dificuldades adicionais,já que o Executivo terá de pagar mais pela dívida antes de receber mais receitas fiscais da exploração do gás.
Na nota que acompanhou a divulgação da manutenção do 'rating' em CCC+,em abril,a S&P disse que "o custo de servir a dívida comercial externa,que era historicamente baixo,cresceu: o Governo já começou a pagar o cupão do Eurobond com maturidade a 2031,que antes era de 5%,equivalente a 47 milhões de dólares (44,1 milhões de euros) por ano,e aumentou para 9%,ou seja,81 milhões de dólares (76 milhões de euros),de 2023 até 2028,aumentando para 225 milhões de dólares (211 milhões de euros) por ano entre 2028 e 2031".
A dívida pública,um dos indicadores mais seguidos pelos investidores para aferir a capacidade de um país suportar o custo da dívida,deverá abrandar para 73,9% do PIB em 2027,quando era de 79,2% no ano passado,disse na altura a S&P.
Os desequilíbrios externos,acrescenta a S&P,também colocam riscos sobre a liquidez do Governo,já que o país tem "uma das métricas de análise mais fracas de todos os países analisados",o que,alinhado com "elevado endividamento externo,reservas externas depauperadas,elevadas necessidades de financiamento e uma forte apreciação da taxa real de câmbio em comparação com a taxa nominal,colocam riscos de uma forte correção".
Ainda assim,concluem os analistas,"as receitas do gás não compensam as pressões de liquidez de curto prazo,por isso as perspetivas orçamentais e económicas vão apenas ser benéficas a longo prazo".