Mohsen Mahdawi foi preso por agentes do ICE durante entrevista para obtenção da cidadania americana — Foto: Reprodução / Redes sociais
O estudante palestino Mohsen Mahdawi,ex-copresidente da União de Estudantes Palestinos da Universidade Columbia,foi surpreendido e preso por agentes do Serviço de Imigração e Alfândega dos EUA (ICE) nesta segunda-feira,enquanto participava de uma entrevista para obtenção da cidadania americana,em Vermont,nos Estados Unidos. Mahdawi,residente permanente legal nos EUA há uma década,agora enfrenta um processo de deportação para a Cisjordânia,em meio ao esforços do governo do presidente Donald Trump para reprimir estudantes envolvidos em manifestações contra a guerra entre Israel e Hamas nas universidades americanas.
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Mahdawi tornou-se alvo de grupos pró-Israel nos últimos meses,além de aparecer em publicações de uma rede com sede em Columbia que promove o chamado “Banco de Dados de Deportação”. Ele é o nono estudante da Universidade Columbia a ser alvo de processos de deportação. Centenas de estudantes estrangeiros e residentes permantes legais tiveram vistos revogados,ou foram detidos,sob alegações de que suas opiniões políticas representaavam ameaças à política externa americana.
— Mohsen Mahdawi foi detido ilegalmente hoje sem nenhuma outra razão além de sua identidade palestina — declarou a advogada do estudante,Luna Droubi,em entrevista ao The Intercept. — Ele veio a este país na esperança de ter liberdade para falar sobre as atrocidades que testemunhou,apenas para ser punido por tal discurso.
Apesar de ter passado pela verificação de antecedentes,Mahdawi suspeitava que a entrevista pudesse ser uma armadilha e teria se preparado para a possibilidade de ser preso,segundo informou uma fonte ao jornal israelense Haaretz. Sua equipe jurídica entrou com um pedido de habeas corpus no tribunal distrital federal de Vermont,na tentativa de impedir sua transferência para fora do estado.
— Este é o resultado. Eu estarei vivo,preso ou morto pelo sistema do apartheid — disse Mahdawi,de acordo com o The Intercept,acrescentando que o risco de deportação para a Cisjordânia "é uma espécie de sentença de morte". — Meu povo está sendo morto injustamente e de forma indiscriminada.
Em dezembro de 2023,Mahdawi deu uma entrevista ao programa 60 Minutes,no qual criticou a resposta da Universidade Columbia à guerra em Gaza,ao mesmo tempo em que condenou manifestações de cunho antissemita. Em um comício,afirmou: “A luta pela liberdade da Palestina e a luta contra o antissemitismo andam de mãos dadas”.
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O estudante foi um dos líderes do movimento de protesto estudantil pró-Palestina até a primavera de 2024,quando disse que deu um passo para trás do movimento para se concentrar em construir pontes com as comunidades judaica e israelense no campus.
No final de 2024,ainda segundo o The Intercept,Mahdawi recebeu a visita de um agente da Força-Tarefa Conjunta Antiterrorismo do FBI em seu apartamento. Ele afirmou que não sabia o propósito da visita. Mahdawi também contou que Columbia se recusou a fornecer a ele imagens do seu condomínio,que registraram a chegada dos agentes.
Antes de sua prisão,Mahdawi chegou a pedir à administração da Universidade Columbia apoio para garantir um local seguro onde pudesse se refugiar,após a detenção de seu colega Mahmoud Khalil pelo ICE no início de março. O advogado de Mahdawi disse que a Columbia afirmou que não poderia lhe fornecer um alojamento seguro no campus.
Em paralelo,a Universidade Columbia enfrenta uma crescente pressão da Casa Branca. A instituição perdeu US$ 400 milhões (cerca de R$ 2 bilhões) em financiamento federal após ser acusada de falhar na proteção de estudantes judeus durante protestos contra a guerra. Como resposta,a instituição aceitou exigências do governo,incluindo aumento da presença policial no campus,supervisão externa sobre os programas de Estudos do Oriente Médio e proibição do uso de máscaras em manifestações.
Na universidade,Mahdawi concluiu recentemente sua graduação em filosofia na Escola de Estudos Gerais e planejava se matricular no mestrado de Relações Internacionais.
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No início deste mês,Mahdawi recebeu um e-mail do USCIS notificando-o de que uma entrevista para obter a cidadania americana estava marcada. Ele disse que esperava que a entrevista ocorresse em dezembro ou janeiro,de acordo com o cronograma previsto para a transição do status de green card para o processo de naturalização. Quando recebeu o e-mail,no entanto,ficou preocupado que pudesse ser uma armadilha.
Mahdawi nasceu e foi criado em um campo de refugiados na Cisjordânia,onde viveu até se mudar para os Estados Unidos em 2014,de acordo com uma petição apresentada por seus advogados.
— As pessoas me perguntam por que eu gostaria de me tornar cidadão de um país que comete genocídioTenho fé nas pessoas que vivem neste país. O governo não é o povo — concluiu Mahdawi.
Apesar da prisão,ele não foi acusado de nenhum crime. Segundo seus advogados,o governo Trump parece estar buscando sua remoção do país sob a mesma justificativa que está usando para deportar Mahmoud Khalil,alegando que sua presença representa uma ameaça à política externa e aos interesses de segurança nacional dos Estados Unidos.
(Com The New York Times)