Imagem divulgada pelo Exército de Israel em 1º de janeiro de 2024 mostra soldados israelenses operando na Faixa de Gaza — Foto: Exército de Israel / AFP
GERADO EM: 05/01/2025 - 19:09
O Irineu é a iniciativa do GLOBO para oferecer aplicações de inteligência artificial aos leitores. Toda a produção de conteúdo com o uso do Irineu é supervisionada por jornalistas.
CLIQUE E LEIA AQUI O RESUMO
O reservista israelense que estava viajando pelo Brasil e era alvo de um pedido de investigação por suspeita de cometer supostos crimes de guerra na Faixa de Gaza deixou o país neste domingo sob acompanhamento da Embaixada de Israel em Brasília. O militar virou alvo da Justiça Federal do Distrito Federal após pedido foi feito pela organização internacional pró-palestina Fundação Hind Rajab (HRF,na sigla em inglês),que vem rastreando as atividades de centenas de soldados israelenses servindo no enclave,palco de uma guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas há mais de 15 meses que já deixou mais de 45 mil palestinos mortos.
'Despedaçou nossos corações': Hamas divulga vídeo de jovem soldado mantida refém em GazaAcampamento al-Mawasi: Bombardeios israelenses matam ao menos 54 pessoas em Gaza,incluindo em zona humanitária segura
O pai do soldado,identificado como Yuval Vagdani,de 21 anos,disse ao jornal israelense Haaretz que o filho foi alertado após um amigo ter recebido uma mensagem da representação de Israel no Brasil sobre a investigação.
— Eu disse a eles para escaparem imediatamente e não ficarem lá nem por mais um minuto. Eles rapidamente fizeram as malas e cruzaram a fronteira em poucas horas — disse ao jornal. — Num piscar de olhos,eles passaram de turistas a fugitivos.
A Embaixada de Israel em Brasília afirmou neste domingo que o militar,que estava na Bahia,foi acompanhado ao aeroporto por um representante diplomático israelense,após contatos telefônicos,e deixou o território brasileiro.
— Acompanhamos à distância o processo de saída dele,para sabermos qual a sua situação. Nós acompanhamos a saída. A decisão e a ação foram dele — disse ao GLOBO o embaixador Daniel Zonshine.
Hussam Abu Safiya: Israel confirma detenção de diretor de hospital em Gaza,e ativistas pressionam por informações sobre paradeiro
Sem dar detalhes,ele acrescentou ter conversado com o militar por telefone,com o objetivo de garantir uma saída rápida e segura. Informações extraoficiais apontam que o soldado deixou o Brasil pelo aeroporto de Salvador e seguiu para a Argentina.
Procurado,o Itamaraty não se manifestou.
Em nota divulgada neste domingo,o governo de Israel ressaltou que o país está exercendo seu direito à autodefesa,após o "massacre brutal cometido pelo grupo terrorista palestino Hamas,em 7 de outubro de 2023". Naquele dia,mais de 1.200 israelenses foram assassinados em um ataque-surpresa do Hamas ao território do país,e cerca de 240 foram feitos reféns. O texto assegura que todas as operações militares em Gaza são conduzidas em total conformidade com o direito internacional.
"Os verdadeiros perpetradores de crimes de guerra são as organizações terroristas,que exploram populações civis como escudos humanos e utilizam hospitais e instalações internacionais como infraestrutura para atos de terrorismo direcionados a cidadãos israelenses",diz um trecho do comunicado.
O governo de Israel reafirmou que o país tem sido alvo de uma campanha global,marcada por denúncias ilegais. De acordo com a nota,a autora da petição que resultou na decisão da Justiça,a Fundação Hind Rajab,uma organização internacional sediada na Bélgica que defende os direitos palestinos,está explorando "de forma cínica os sistemas legais para fomentar uma narrativa anti-Israel tanto globalmente quanto no Brasil".
Segundo a agência AP,o Ministério das Relações Exteriores de Israel alertou os israelenses contra postagens nas mídias sociais sobre seu serviço militar. A denúncia da HRF,à qual se uniram famílias cujas casas foram destruídas,baseia-se em supostas evidências,como vídeos,dados de geolocalização e fotografias postadas nas redes sociais.
De acordo com a HRF,o soldado teria participado de demolições massivas de residências civis em Gaza,em meio a uma campanha sistemática "de destruição". "Esses atos fazem parte de um esforço mais amplo para impor condições de vida insuportáveis aos civis palestinos,o que constitui genocídio e crimes contra a Humanidade segundo o direito internacional",afirmou a organização.
Segundo o Centro de Satélites da ONU,dados divulgados em setembro indicam que dois terços dos prédios de Gaza foram destruídos ou danificados desde o início da guerra. Em maio,a ONU afirmou que a reconstrução de Gaza custará de US$ 30 bilhões a US$ 40 bilhões (R$ 163 bilhões e R$ 218 bilhões),exigindo um esforço sem precedentes desde a Segunda Guerra.
Unicef: Mais de 17 mil menores estão desacompanhados em Gaza,e reuni-los com as famílias é uma tarefa quase impossível
O soldado foi identificado após publicar um vídeo no Instagram com imagens do Corredor de Netzarim,antes das demolições. Em um vídeo diferente,citado pelo Haaretz,uma explosão controlada é filmada com o som de soldados rindo ao fundo. Um deles pode ser ouvido cantarolando a música "The final countdown".
Segundo o Haaretz,o presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa do Parlamento de Israel,Yuli Edelstein,anunciou que,devido ao incidente,uma reunião será realizada na segunda-feira sobre a proteção dos soldados contra processos no exterior. Segundo o portal de notícias israelense Ynet,o Exército já identificou cerca de 30 processos criminais contra seus membros. Pelo menos oito soldados,incluindo alguns que viajaram por Chipre,Eslovênia e Holanda,tiveram de deixar os países imediatamente devido a investigações.
O pedido da organização de investigação contra Vagdani foi acolhido em 30 de dezembro pela Justiça Federal do Distrito Federal. O presidente da HRF,Dyab Abou Jahjah,comemorou a decisão e destacou que este havia sido o primeiro caso em que um Estado signatário do Estatuto de Roma aplicaria diretamente suas disposições sem recorrer ao Tribunal Penal Internacional (TPI).
A Fundação Hind Rajab foi criada para documentar crimes de guerra contra os palestinos após o início da campanha militar israelense em resposta ao letal ataque de comandos terroristas em Israel em 7 de outubro de 2023. Seu nome é em homenagem à menina palestina Hind Rajab,de 6 anos,que sobreviveu a disparos de um tanque israelense em Gaza enquanto estava em um carro com familiares em fevereiro do ano passado,mas desapareceu e foi encontrada morta quase duas semanas depois. Os Estados Unidos pediram ao governo do premier de Israel,Benjamin Netanyahu,que investigasse o caso.
Com agências internacionais.