A jornalista Constança Tatsch e os médicos Bruno Filardi,João Viola e Tatiane Montella — Foto: Reprodução
GERADO EM: 13/11/2024 - 21:22
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Muitos avanços na prevenção,no diagnóstico e no tratamento do câncer foram feitos nos últimos anos. E muito mais está por vir,de acordo com os especialistas que participaram ontem da terceira live “O futuro da luta contra o câncer”,a terceira e última live do hub Viver o Câncer.
O encontro foi realizado pelos jornais O GLOBO e Extra e teve patrocínio da Oncoclínicas&Co.
Participaram da live o oncologista Bruno Andraus Filardi,que é oncogeneticista e pesquisador na Biomab e na DNA Guide; João Viola,coordenador de Pesquisa e Inovação e vice-diretor geral do Instituto Nacional de Câncer (Inca); e Tatiane Montella,colíder nacional de oncologia torácica da Oncoclínicas&Co,coordenadora de oncologia da Casa de Saúde São José e oncologista da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). A mediação foi da editora-assistente de Saúde,Constança Tatsch.
Tatiane Montella começou explicando o grande divisor de águas no combate ao câncer: a maior compreensão da doença:
— As últimas décadas mostraram o quanto a ciência e a tecnologia colaboraram no combate ao câncer,mas eu daria enfoque principal ao entendimento da doença em si. Hoje compreendemos melhor o câncer do que no passado. Antes,entendíamos como uma doença única,e agora já entendemos como várias.
De acordo com João Viola,hoje o câncer já pode ser considerado 150 ou até 200 doenças. E é a partir dessas descobertas que nasce a medicina de precisão:
— Os tumores têm as suas assinaturas,que podem ser individualizadas até para o mesmo tipo tumoral,mas que em pessoas diferentes podem ser diferentes. Tem que individualizar e entender qual o melhor tratamento para a paciente A,B ou C,mesmo que todas elas digam “eu tenho câncer de mama”. Isso é a individualização do tratamento,ou medicina de precisão. Consequentemente,as respostas terapêuticas serão melhores,haverá menos efeitos colaterais e direcionaremos tratamentos mais eficazes. E isso já acontece para todos os tipo tumorais. É o futuro,que já chegou,mas ainda vai andar muito.
No encontro,os especialistas também falaram sobre a prevenção.
— Os fatores de risco estão diretamente relacionados a essa doença. É aquilo que a gente já fala: cigarro,álcool,a obesidade são grandes fatores de risco. Hoje temos abordagens diferentes e mais modernas para falar da prevenção — diz a oncologista.
Bruno Andraus Filardi explicou a equação entre risco e fatores ambientais.
— A epigenética é como um disjuntor: às vezes tenho uma alteração genética,mas o que leva ao processo de doença,que vai expressar ou não a proteína? Tenho uma pessoa com uma predisposição hereditária a um tipo de câncer,mas ela pode desligar essa proteína (graças aos fatores ambientais). É o fator a que se atribui a epidemia de câncer em pessoas jovens — explicou.
Tecnologias
A inteligência artificial também foi tema da conversa.
— Padrões específicos podem ser reconhecidos pelas máquinas e se a gente treina a máquina para ver esse padrão,ela vai reconhecer toda vez que vê aquilo. Eu posso mostrar a lesão num raio-X de pulmão para a máquina e ela vai ver isso 1 milhão,2 milhões,200 milhões de vezes e aprenderá a identificar sempre aquela imagem. Isso vai ajudar muito em termos de rapidez e acesso— afirmou Viola.
Os avanços também aconteceram no tratamento do câncer,e Tatiane Montella resumiu algumas dessas mudanças:
— Hoje a gente fala em oncologia e cirurgias minimamente invasivas,inclusive com as cirurgias robóticas que têm bons resultados e menor tempo de internação. Também tivemos ganhos na radioterapia,que a melhorou com a tecnologia,diminuindo efeitos colaterais e oferecendo melhores desfechos. Um grande marco em relação tratamento foram as terapia-alvo direcionadas e no cenário da imunoterapia,quando a gente estimula o nosso próprio sistema imune para que entenda que aquela célula não é saudável e a combata.
Diante de tantas novidades,os médicos falaram da necessidade de levar esses recursos ao maior número possível de brasileiros.
— Nenhum avanço vai fazer sentido se nós,como país,não conseguirmos organizar isso e levar para a população como um todo. Nós vemos a disparidade hoje de levar a tecnologia para o SUS,não é simples de resolver,mas o foco deveria ser esse: dar acesso. É a diferença entre eficácia e efetividade: não adianta ter terapia eficaz,se não chegar às pessoas,não tem efetividade nenhuma — afirmou Bruno Filardi.
Do Inca,João Viola ainda complementou:
— As políticas de prevenção são fundamentais,principalmente,os avanços recentes são enormes em termos de diagnóstico e tratamento,mas o principal é dar acesso à toda população que tem necessidade. Com novas tecnologias,o custo também aumenta,e ele tem que ser minorizado ou pode colocar os sistemas em não funcionamento. Então a gente tem que ter políticas de incorporação,temos que fazer bem feito o que já fazemos bem,dos tratamentos e diagnósticos que já conhecemos,e incorporar de maneira racional o novo — diz.
A live encontro ficará disponível no YouTube e Facebook do GLOBO e Facebook do Extra para quem quiser rever ou compartilhar esse conteúdo.