Biden deixando evento no último dia da cúpula da Otan em Washington — Foto: AFP
GERADO EM: 23/07/2024 - 04:30
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Domingo de tarde,Biden deitadão naquele sofá bege do Salão Oval. O jornal na barriga,a TV ligada,o telefone — vermelho — tocando sem parar. Do outro lado,assessores querendo discutir a guerra da Ucrânia,a questão dos imigrantes,o apagão cibernético na semana passada. Só treta,confusão e briga de cachorro grande. Ele ali,de saco cheio,olhar no teto,lembrando da torta de maçã que a avó fazia,sonhando com as férias na Disney na companhia dos netos. Enquanto espera a música do Fantástico para ir dormir,se pergunta: por que não consigo ficar aqui tranquilo,de boas? De supetão — não tão supetão assim,que a lombar não aguenta mais —,ele levanta e solta o grito primal do homem contemporâneo: “Que se foda,tô fora!”
#tamojunto Biden
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Não quero tirar o emprego de escritores de autoajuda,nem desapontar admiradores de influencers existenciais e seguidores de coachs metafísicos,mas a persistência é uma qualidade sobrevalorizada. A toda hora,em todo lugar,tem um profeta do óbvio mandando a gente persistir,insistir,seguir em frente a qualquer preço. É bom,até faz bem,mas não vamos exagerar: desistir — na hora certa — é a grande arte.
Um monte de gente persiste,persiste,persiste e mesmo assim não chega onde queria. Pelo contrário,acaba pior que começou. Por teimosia,não percebe que até estava avançando,mas na direção contrária. Tipo ter que ir para Niterói,pegar a Brasil para o outro lado e acabar em Bangu. Acontece muito.
São pessoas a quem sobra vontade e determinação,mas falta GPS. Também existem os que insistem no que nunca vai dar certo e os que persistem em algo que,sim,funciona,mas não para eles.
Não quero fazer uma ode ao pessimismo,mas uma dose de régua e compasso e uma pitada de “melhor não” podem nos poupar de grandes decepções.
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Dizem que o sucesso é 99% de suor e 1% de talento. Mais certo,impossível. Mas vamos ser sinceros,leitor: existem pessoas — maravilhosas — que nem esse 1% têm. Aí,complica. O sonho de uma jornada heroica rumo ao topo da montanha vira um patético tombo na escada na direção do porão. Não era melhor ter largado o osso lá no começo?
Nem deveria falar sobre a importância da desistência na vida afetiva. É até covardia. Construir uma relação,ir colocando tijolinho em cima de tijolinho,é algo lindo,deve ser um objetivo tão desejado como celebrado. Mas... Vamos ser sinceros: é uma em cem,né? Sobre as outras 99,meu caro leitor,descobrimos depois — estropiados — que era melhor ter pulado fora antes. Quantas vezes a gente insistiu em algo que era obviamente uma roubada? Todo mundo avisando e a gente ali,teimando. Desistir teria sido muito melhor do que descer a ladeira sem freio e bater de frente com um caminhão.
Nem acho que Biden estava tão mal assim,entrar num debate com um lunático mitômano é uma luta inglória para qualquer um,você tem que contestar um sujeito que acredita mesmo nas mentiras que diz. Igual a jogar xadrez com pombo. Vale a pena? Para quem tem tempo,disposição e um futuro pela frente,sim.
Só que tem uma hora na vida em que você percebe que o tempo é curto e que o que você quer mesmo é ler o jornal de domingo tranquilo,de boas,deitado no sofá.
Eles que lutem.