Os tipos de câncer listados incluem próstata,endométrio,mama e cólon — Foto: Freepik
GERADO EM: 09/07/2024 - 04:30
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O excesso de peso é uma preocupação de saúde pública crescente no mundo. E,embora não seja necessariamente sinônimo de doença,ela pode trazer diversos riscos à saúde,como: hipertensão,diabetes,gordura no fígado (esteatose hepática),problemas ortopédicos,refluxo gastroesofágico e até mesmo diferentes tipos de câncer.
Um estudo recente feito por cientistas da Universidade de Lund,na Suécia,apontou a obesidade como fator de risco para 32 diferentes tipos de câncer,uma revisão considerável em relação aos 13 associados em trabalhos anteriores.
Os tipos de câncer listados incluem próstata,mama e cólon. A nova pesquisa apontou pela primeira vez a relação com 19 tipos de câncer,como melanoma maligno,tumores gástricos,câncer das glândulas pituitárias,de vulva e pênis e variedades de pescoço e cabeça. Segundo o trabalho,a cada cinco pontos a mais no IMC aumenta em 24% em homens e 12% em mulheres o risco de desenvolver câncer.
Mas qual é a relação entre a obesidade e o surgimento do câncer? Especialistas ouvidos pelo GLOBO apontam três principais mecanismos de influência. O primeiro deles é o acúmulo de gordura corporal que acumula tecido adiposo não só na parte abdominal,mas também em outros órgãos,como o fígado,pâncreas,rins e coração. Esse acúmulo gera uma produção excessiva de substâncias inflamatórias que prejudicam as células de defesa do corpo,que não conseguem distinguir as células tumorais e não as expele.
— Chega um dado momento que o tecido gorduroso atinge sua capacidade máxima de acumular a energia que ingerimos na alimentação. Passa a produzir substâncias que facilitam o acúmulo de gordura em outros órgãos,como o fígado. Esse fenômeno deveria ser saudável. No entanto,resulta em muitos casos no desenvolvimento de uma doença hepática gordurosa,liberando substâncias inflamatórias,que podem causar fibrose,cirrose e potencial progressão para uma insuficiência hepática e câncer no fígado — explica o diretor da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO),Fernando Gerchman.
Em mulheres,esse aumento da gordura corporal causa maior produção de estrógeno,o hormônio feminino e,consequente maior estimulação de tecido glandular mamário e uterino (o endométrio) e ovariano,predispondo a divisão celular e formação de celular que originam o câncer.
— Mulheres obesas terão níveis aumentados do estrógeno circulante. Só que o organismo não sabe qual a célula está saudável e qual está doente,então acaba estimulando todas que estão ali,possibilitando o surgimento do câncer de mama,útero,ovário,entre outros — afirma a nutricionista Thais Manfrinato Miola,coordenadora de Nutrição Clínica do A.C.Camargo Cancer Center.
Segundo Gerchman,cerca de 40% dos casos de câncer de útero,hoje,têm relação direta com a obesidade,que se transformou na segunda maior causa de câncer no mundo,perdendo apenas para o tabagismo.
Como terceiro mecanismo temos o aumento da resistência à insulina. Pessoas com obesidade têm um aumento significativo dos níveis de insulina,pois o pâncreas passa a produzir mais desse hormônio que estimula o crescimento celular,predispondo ao risco de câncer.
— Indivíduos com obesidade frequentemente apresentam níveis sanguíneos aumentados de insulina e fator de crescimento semelhante à insulina-1 (IGF-1). Conhecida como hiperinsulinemia,decorrente da resistência à insulina,precedem o desenvolvimento de diabetes tipo 2,outro fator de risco conhecido para câncer. Níveis elevados de insulina e IGF-1 podem promover o desenvolvimento de câncer de cólon,rim,próstata e endométrio — explica o presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM),Paulo Miranda.
Há outros motivos,também,como o câncer de esôfago (adenocarcinoma),por exemplo,que pode ser causado pelo refluxo gastrofágico. Segundo os especialistas,pessoas com obesidade possuem um risco até 30 vezes maior de terem refluxo,o que acaba irritando a parede do estômago,podendo causar transformação de células normais em malignas,estimulando o crescimento de células cancerígenas.
Segundo estudo publicado este ano pela revista científica The Lancet e apoiado pela Organização Mundial da Saúde (OMS),mais de um bilhão de pessoas no mundo,1 a cada 8,vivem com obesidade. No Brasil,porém,a proporção considerando a população adulta já é de uma pessoa com a doença a cada quatro,apontam dados da pesquisa Vigilância de Fatores de Risco de Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) 2023,monitoramento anual do Ministério da Saúde.
Segundo o levantamento,24,3% dos adultos brasileiros são obesos – percentual que chega a ser de 32,6% entre homens de 45 a 54 anos,praticamente 1 a cada 3. Na outra ponta,a proporção mais baixa é entre mulheres de 18 a 24 anos,faixa em que 11,8%,1 a cada 10,têm obesidade.
A obesidade é o acúmulo de gordura no corpo geralmente causado por um consumo de energia na alimentação,superior àquela usada pelo organismo para sua manutenção e realização das atividades do cotidiano. Uma pessoa pode ser considerada obesa quando o IMC — Índice de Massa Corporal — está acima de 30kg por metro quadrado.
Recentemente,o diretor da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO),Fernando Gerchman,publicou estudos no jornal Diabetes Care e Journal of Clinical Endocrinology and Metabolism,da Associação Americana de Diabetes e da Sociedade Americana de Endocrinologia mostrando que fazer mudanças drásticas de estilo de vida,como realizar dietas e atividades físicas com o intuito de perder 10% do peso,com algumas horas de caminhada em ritmo intenso por semana,não foi superior em prevenir morte por doença cardiovascular,câncer ou morte de uma maneira geral na comparação com ajustes mais graduais.
— Ou seja,possivelmente um programa mais leve e estruturado de dieta e atividade física são o suficiente para proteger quem tem pré-diabetes e diabetes contra o câncer,a doença cardiovascular e morte,aumentando a expectativa de vida de quem tem essas doenças — diz o médico e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Em outro estudo,publicado na Diabetes Research and Clinical Practice,o endocrinologista e sua equipe demonstrou que as mesmas estratégias de mudança de estilo de vida intensiva protegem mais contra o desenvolvimento de diabetes do que um programa mais leve de dieta e exercício físico.